Retrato"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?"Cecília MeirelesAula de literatura. Profº Júlio recita esse poema de desfecho tão meu conhecido:
"-Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Ainda me pergunto, contemplando este sorriso que não é meu, essas transformações... Não fui consultada para nenhuma delas...
Análise
Hoje eu acordei e me encarei de frente
Vi no espelho um rosto que não era meu
Meus traços não são mais os mesmo de poucos anos
Minha cabeça já não tem eixo fixo
Rodopia pulando nas órbitas das idéias
Furacões, terremotos, vulcões
Me sinto em meio a uma catástrofe natural
Raios passam a poucos metros de mim
Trovões estrondam em meus ouvidos
A confusão é grande, maior é meu medo
Medo de coisas que nem sei
Só sei que temo até este medo
A insegurança sonda à minha volta
Ás vezes, me aborda bruscamente
Me atira novamente ao espelho
E sou obrigada a encarar este rosto de novo
Tento fugir, mas a revolução recomeça
Como deter o ciclo natural das coisas?
Como evitar a análise eterna de mim mesma?
Só posso me agarrar aos momentos de certeza que ainda me restam
Para não me tornar náufrago deste mar desconhecido do meu eu confuso...
(02/03/2004)
Me sinto novamente no terceiro ano, por razões óbvias...
E por razões não tão óbvias assim também...
Serei atemporal, como as palavras de Cecília?