Escritos da Alma

Esta é uma extensão do meu ser, um pedacinho das minhas quimeras, fagulhas das minhas ilusões. Drummond me ensinou a divulgar-me, porque meu coração é muito menor que o mundo, nele não cabem nem minhas dores, nem minhas alegrias, nem minhas revoltas e divagações. Então... Entre e fique à vontade. A intenção é me despir, me gritar e freqüentar os jornais, pois preciso de todos. Não escrevo pra mim. Escrevo por vida, pela vida e para a vida.

quarta-feira, agosto 30, 2006

ESCRITO NA AREIA

As impressões na areia
que aqui irei deixar
As ondas, o vento
e o mar vão apagar

Mas os momentos vividos
As cicatrizes de onde pisar
Nem o tempo, soberano
Nem a eternidade irão findar

Os sons, as cores, a brisa
São todos momentos meus
Mas, neste lugar, não mando
Aqui, a ordem é de Deus

Se ficará ou não marcado
Ninguém pode prever
Mas em minh'alma mando eu
E nela eu posso me esconder

Nem as nuvens, nem o céu
Poderão entender o que faço
Mas a areia, esta sabe
Como ela, não sou de aço.

Praia de Baixios
29/07/2006

Por que eu não sou Senhora do tempo...
Mas mando na minha alma!
E nela eu guardo apenas o que for bom...
*Escrito literalmente na areia, onde as palavras são mexidas pelo vento, mas os sentimentos não passam...

PS: Foto original.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Indigestão

Nada me cai bem
O mundo parece uma pedra
Pesa, maciço, à medida que o devoro
Desastrosa ânsia
Quero botar tudo para fora
Não quero sentir este peso
Não suporto mais meu próprio corpo
A exaustão devora-me
Desnutrida, desmaio
Não vai embora o enjôo
Minha cabeça incomoda sobre os ombros
Meus pensamentos, sem contornos fixos
Forço-me a comer
Mas não é o que meu ser pede
Reclama renovação
Ressaca moral
Regurgito a vida
Vomitar palavras
Pode ser antídoto
Mas não é solução
Não há cura...

*Pq o mundo não pára de girar?*

quarta-feira, agosto 09, 2006

Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?"


Cecília Meireles

Aula de literatura. Profº Júlio recita esse poema de desfecho tão meu conhecido:
"-Em que espelho ficou perdida a minha face?"
Ainda me pergunto, contemplando este sorriso que não é meu, essas transformações... Não fui consultada para nenhuma delas...

Análise

Hoje eu acordei e me encarei de frente
Vi no espelho um rosto que não era meu
Meus traços não são mais os mesmo de poucos anos
Minha cabeça já não tem eixo fixo
Rodopia pulando nas órbitas das idéias
Furacões, terremotos, vulcões
Me sinto em meio a uma catástrofe natural
Raios passam a poucos metros de mim
Trovões estrondam em meus ouvidos
A confusão é grande, maior é meu medo
Medo de coisas que nem sei
Só sei que temo até este medo
A insegurança sonda à minha volta
Ás vezes, me aborda bruscamente
Me atira novamente ao espelho
E sou obrigada a encarar este rosto de novo
Tento fugir, mas a revolução recomeça
Como deter o ciclo natural das coisas?
Como evitar a análise eterna de mim mesma?
Só posso me agarrar aos momentos de certeza que ainda me restam
Para não me tornar náufrago deste mar desconhecido do meu eu confuso...

(02/03/2004)

Me sinto novamente no terceiro ano, por razões óbvias...
E por razões não tão óbvias assim também...

Serei atemporal, como as palavras de Cecília?